A falta de água no Sertão de Pernambuco há muito tempo ultrapassa os limites do aceitável e coloca em xeque a responsabilidade e atuação da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). Em Santa Filomena, Sertão do Araripe, o problema é alarmante e se tornou mais uma ferida aberta no cotidiano da população. Desde setembro, a cidade e o distrito do Socorro sofrem com a interrupção total do fornecimento de água pela Compesa. Para agravar ainda mais a situação, as contas continuam chegando, obrigando os moradores a pagar por um serviço que não recebem.
O problema da água em Santa Filomena tem um histórico marcado pela falta de planejamento e desprezo por parte da Compesa. Próximo do fim da administração de Paulo Câmara e no início do governo de Raquel Lyra, a população enfrentou quase dois anos sem abastecimento regular. Quando o fornecimento voltou, foi de maneira limitada e intermitente, com a água chegando a algumas casas apenas uma vez por semana e em outras, nem isso. Recentemente, a seca do Açude do Governo — fonte que ainda supria a cidade com alguma água — selou o destino dos moradores, obrigados agora a gastar o que têm em carros-pipa para assegurar o mínimo de água necessário para viver.
A Realidade de Quem Sofre na Pele
A falta d’água transformou o cotidiano da população em uma batalha diária. Edinaldo Barros, morador da cidade, revela: “Na Frei Damião ninguém está recebendo água, acho que a cidade inteira está sem água da Compesa.” Para Fernanda Batista, a situação também é insustentável: “Na minha casa tem mais de um mês que não tem água na torneira. Estamos comprando água cara e só dura no máximo 15 dias, mesmo com economia.” A indignação e o desalento ecoam na fala de Elizângela, que pergunta onde está a água do Rio prometida, enquanto paga por um serviço inexistente: “Desde que a Compesa desligou a bomba do Açude do governo, que na torneira não sai um pingo de água! Mas a conta está vindo; temos que emitir no setor da Compesa.”
José Arlan, outro morador, expressa uma alternativa que acredita ter sido ignorada: “Se ligasse da Lagoinha, onde a adutora passa há 500 metros da barragem, daria para socorrer até a chegada das chuvas. Lá, graças a Deus, tem água para a labuta.” Em vez disso, a resposta que a população recebe é um silêncio ensurdecedor. Neide Souza, Joseane Lima, Jaciane Morais e Marinete compartilham a mesma indignação. Jaciane afirma: “O rojão é doido. Só Deus pra ter misericórdia de nós.” Marinete, revoltada, decidiu não pagar pelas contas de um serviço que nunca chega: “Eu não tô pagando a conta não porque não vou pagar por uma coisa que não tô tendo.”
Compesa e Governo: Uma Resposta Esperada, Mas Não Dada
A Compesa, que deveria estar à frente do enfrentamento dessa crise, não oferece uma solução e nem mesmo se posiciona. É um fato alarmante que em pleno século XXI, regiões inteiras do sertão pernambucano, como Santa Filomena, fiquem “ao Deus dará” em relação ao abastecimento básico de água. Os esforços do programa “Águas Por Pernambuco” têm sido claramente insuficientes para enfrentar a demanda de cidades que sofrem com o problema crônico da falta d’água.
Enquanto a Compesa se mostra indiferente, a construção de mananciais de médio e grande porte no município é uma possibilidade concreta e viável para resolver a escassez, mas exige investimentos em infraestrutura hídrica que tanto a companhia quanto o governo parecem relutantes em fazer. A pergunta que fica é: até quando Santa Filomena e outros municípios do sertão suportarão esse descaso? Até quando os moradores viverão o drama de sobreviver sem água, tendo que escolher entre pagar por um serviço inexistente ou gastar em alternativas caras e temporárias?
O Clamor da População e a Necessidade de Ações Urgentes
Os depoimentos e relatos dos moradores de Santa Filomena ilustram uma realidade de desesperança. As vozes da população clamam por uma resposta efetiva que traga dignidade: o acesso à água. É necessário que a Compesa, em conjunto com o Governo do Estado, tome uma posição urgente para assegurar à população o direito essencial ao abastecimento de água.
Fica o apelo: será que a Compesa irá continuar de ‘braços cruzados’?
FONTE (CHARLES ARAUJO)